domingo, 29 de novembro de 2009

Jornalismo de Revista

Por Magda Marques

A obra Jornalismo de Revista, de Marília Scalzo, traz uma análise deste meio em nove capítulos. Discute as técnicas de construção de um texto do gênero e os rumos do mercado de trabalho no setor. Ela faz um passeio na história desde o surgimento da primeira revista e escreve sobre as dificuldades financeiras que levaram a falência empresas do mercado editorial. Indaga sobre como deve ser uma boa revista e a evolução dessa mídia no Brasil. Discute o que difere este tipo de publicação de outros meios.

A revista trata o leitor com intimidade e precisa saber o que ele quer. Para fazer isso, é preciso ouvi-lo. Cada vez mais as revistas têm canais de interatividade com o leitor, seja por telefone, e-mail, pesquisas ou cartas. A revista cria identificações, dando a impressão de pertencer a um determinado grupo. Scalzo ressalta que quem define o que é uma revista é o seu leitor. Enquanto o jornal fala para um público sem rosto, a revista entra no espaço privado. Nas ultimas décadas os jornais procuraram ficar mais parecidos com as revistas, através dos temas ou divisão de cadernos. Porém, não tiveram sucesso.

A jornalista lembra que a primeira revista foi fundada em 1663 na Alemanha e se chamava Erbauliche Monaths Unterredungen ou Edificantes Discussões Mensais. Tratava-se de um volume no formato de livro, e só foi caracterizada como revista, por conta dos artigos de teologia e periodicidade regular. Dois anos depois, surge na França a primeira revista literária, a Journal des Savants. Na seqüência, aparecem em épocas diferente o Giornali dei Litterali (Itália) e o Mercurius Librarius ou Faithfull Account of all Books and Pamphlets (Inglaterra). O termo magazine, segundo Scalzo, surge especificamente em 1704, na Inglaterra, com um volume também parecido com um livro. Os títulos da época transitam por várias estéticas.

Só em 1731 surge a primeira revista semelhante ao nosso padrão moderno The Gentleman's Magazine, na Inglaterra. Nos Estados Unidos, a marca inicial é o ano de 1741, quando são fundadas a American Magazine e General Magazine. Hoje, Scalzo informa que nos Estados Unidos são impressos cerca de 6 bilhões de exemplares/ano, contra 600 milhões de exemplares/ano no Brasil. No século XIX a revista cresce e dita moda. Há o desejo maior de ler e instruir-se. Com o avanço das artes gráficas, a revista passa a ser um meio que possibilita tratar de vários assuntos num só lugar, com imagens.

A autora destaca que a revista era vista como um objeto apenas para a elite, por isso pouco acessível. Os jornais eram mais engajados, ligados a tendências ideológicas, a partidos políticos e à defesa de causas públicas. As revistas tinham o papel de complementar a educação, se relacionando mais com a ciência e cultura. Marília Scalzo salienta que a partir do crescimento das tiragens aumentou os anunciantes. Outra conseqüência foi a redução do custo de produção e menor preço do exemplar.

As revistas femininas do século XIX abordavam os afazeres do lar e as novidades da moda. Algumas oferecem moldes de roupas e desenhos bordados. Naquele século, também se desenvolvem um modelo de publicações literárias e científicas, a Scientific American e National Geografhic Magazine. Na época são lançadas publicações sobre Arqueologia, Filologia, Geografia, Medicina e Engenharia.

Na obra Jornalismo de Revista está destacado o surgimento da revista Time em 1923. Os fundadores, Haidden e Luce, tinham a ideia de trazer notícias da semana do país e do mundo, com informações cuidadosamente apuradas. Por trás daquele projeto havia a ideologia norte-americana de culto ao sucesso. O resultado dessa revista foi um modelo para todo o resto do mundo. No Brasil, a Veja, criada em 1968, tornou-se seu subproduto mais reconhecido.

As revistas fotográficas também são citadas no livro. Em 1936, Luce põe no mercado editorial a revista Life, uma publicação semanal ilustrada. Já no primeiro editorial, a revista se propõe a ver a vida, ver o mundo, testemunhar grandes acontecimentos, observar o rosto do pobre e os gestos dos orgulhosos, ver coisas estranhas. A Life passou a ser copiada na França pela Match. Na Alemanha a Stern usa a mesma fórmula, e no Brasil, o Cruzeiro e Manchete seguem a receita e se tornam fenômenos editoriais. Scalzo relata que em 1921, Dewitt e Acheson criam o lendário título Reader's Digest que no Brasil adotou o nome Seleções. A publicação condensava artigos de outras revistas e jornais, oferecendo ao leitor uma variedade de assuntos inéditos.

O livro Jornalismo de Revista também trata de dois títulos que são sucesso até os dias de hoje, a Elle e a Playboy. A primeira foi iniciada em 1945, logo após o final da guerra. O objetivo de Helene Lazareff é o de restituir na mulher francesa o gosto pela vida depois de anos de privação e sofrimento. A polêmica Playboy é concebida por Hugh Hefner. Sua ideia é misturar sofisticação com bom jornalismo, boa ficção, humor requintado, moda, bebida e gastronomia, tudo aliado a fotos de garotas nuas.

No Brasil, as revistas chegam no começo do século XIX junto com a corte portuguesa, que fugia da perseguição napoleônica. O primeiro título foi “As Variedades” ou “Ensaios de Literatura”. Passou a ser editado em 1812 na Bahia e propõe-se a publicar discursos sobre costumes e virtudes morais. Scalzo trata também dos fenômenos editoriais como “O Cruzeiro”. Idealizada pelo jornalista Assis Chateaubriand, a revista estabelece uma nova linguagem na imprensa nacional, por meio da publicação de grandes reportagens. A concorrente desta fase era a Manchete. A revista é fortemente ilustrada e valoriza ainda mais os aspectos gráficos e visuais. Ambas decretam falência do modelo das revistas semanais ilustradas.

Por outro lado, um tempo depois, surge o jornalismo investigativo com a “Realidade”, em 1966. Esta foi a inspiração da revista Veja, publicação que se solidificou no início dos anos 70 e hoje vende 1,2 milhão de exemplares semanais. Veja é atualmente a quarta revista de informação mais vendida no mundo, atrás apenas das norte-americanas, Time, Newsweek e US News & World Report. A autora também caminha pelo marketing editorial lembrando as diferenças da revista com outros meios.

Marília Scalzo escreve sobre a relação jornalista-leitor, sobre os formatos da periodicidade, e das recentes tendências como as costumer publishing ou costumer news, revistas feitas sob encomenda para empresas ou grupos e geralmente tratam de estilo de vida. A especialização do jornalista de revista é outra área explorada pela autora. Scalzo aborda os princípios do jornalismo, da responsabilidade social, credibilidade, ética e dá dicas de como se deve atuar para ter melhor aproveitamento nesta profissão. Ela salienta para seus leitores, que o chamado texto mais elaborado não é só uma questão de estilo. Diz que o segredo está na apuração e quem tem um número maior de informações qualificadas na mão, tem muito mais chances de escrever uma boa reportagem. "Não adianta querer ficar bordando um texto vazio de informação. Jornalismo não é literatura”, destaca Scalzo.

O livro Jornalismo de Revista fornece bons subsídios aos estudantes de Jornalismo. Uma leitura produtiva que faz a pessoa refletir sobre muitos aspectos do meio da comunicação. Traz dados importantes sobre o perfil e trajetória de várias revistas que marcaram a história no Brasil e no mundo. Um livro que contribui com informações essenciais para a carreira de um jornalista de revista.

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