segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Pesquisa Clínica no Combate à Doenças

Disciplina: Redação Jornalística II

Por Ana Paula Escobar

O Brasil entrou definitivamente na rota dos grandes estudos clínicos. Nos últimos dez anos, o país tornou-se um importante centro de testes de novos fármacos em seres humanos. Segundo a revista Veja do mês de março de 2008, foram registrados mais de 800 protocolos entre 2005 e 2007 de experimentos e gêneros envolvendo 15 mil participantes ou sujeitos de pesquisa. Pesquisa clínica é um conjunto de estudos controlados realizados em seres humanos, com a finalidade de testar a eficácia e segurança de fármacos, medicamentos e vacinas com o objetivo de desenvolver a ciência da saúde que resulta em melhorias no tratamento da doença e na qualidade de vida do paciente.

É fato que a participação dos estudos clínicos traz benefícios para várias parcelas da sociedade. Sendo mais específica, os grandes beneficiados são os pacientes e a indústria farmacêutica”, destaca a monitora de pesquisa clínica da Roche Brasil, Larissa Rocha Moreira. Os pacientes que são acompanhados em estudos clínicos recebem um tratamento diferenciado com cuidados médicos, de enfermagem e farmácia mais rigorosos. Os estudos oferecem melhor tratamento, porque uma pesquisa compara o melhor medicamento de tratamento usual com uma nova droga que pretende ser no mínimo melhor que o já utilizado. Para a indústria farmacêutica, as pesquisas admitem acesso a muitos investigadores fortemente motivados com novos medicamentos, permitindo também, a criação e desenvolvimento de médicos líderes de opinião sobre o nova droga que a indústria está desenvolvendo.


Por ano, a indústria farmacêutica movimenta na área de pesquisa 30 bilhões de dólares. Comparando com outras chamadas indústrias de inovação (como por exemplo, a eletrônica), a farmacêutica é a que possui a maior porcentagem de suas receitas aplicadas em pesquisa: mais ou menos 18%. “A pesquisa científica hoje está controlada pela indústria farmacêutica. Daí vem o dinheiro e é quem controla os estudos mais importantes, define as perguntas que serão respondidas, os problemas mais importantes. Cabe à indústria discutir a melhor estratégia: continuar vendendo caro para um número pequeno de pessoas ou vender barato para um número maior”, explica o doutor Carlos Barrios, professor da Faculdade de Medicina da PUC de Porto Alegre e diretor do Centro de Pesquisa em Oncologia, em entrevista a revista Carta Capital em 09/05/2005.


No Brasil, em 2002, os dados mostraram investimento de 112 milhões de reais em pesquisa clínica, mas o País ainda participa de menos de 1% dos estudos internacionais. Embora ainda pequeno pelo potencial brasileiro, nos próximos anos este índice deve aumentar com os patrocínios das indústrias farmacêuticas e os trabalhos desenvolvidos por muitas equipes de estudos clínicos do Brasil.


Na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul, a 400 km de Porto Alegre, a pesquisa clínica do Hospital de Caridade de Ijuí (HCI) está beneficiando muitos pacientes com câncer da cidade e região. A ideia de organizar uma pesquisa foi a partir de um sonho antigo do diretor do Centro de Pesquisa em Oncologia do HCI e médico oncológico, Fábio André Franke. Como tudo tem um início, a primeira oportunidade de conduzir um estudo surgiu no ano de 2000, num projeto que apenas registrava formulários e questionários de qualidade de vida dos pacientes. Para o médico Fábio, essa chance foi algo muito estimulante porque aprenderam muito a maneira de como registrar corretamente e, oficializar as informações relevantes do projeto. “Nosso desempenho foi muito acima do esperado, conseguimos durante 6 semestres ser o centro do Brasil que mais registrou esse tipo de formulário. Isso fez o que nos ganhássemos e chamássemos a atenção para outros projetos”, diz Franke.


Atualmente, a pesquisa clínica do HCI está trabalhando com 25 protocolos de câncer de mama, pulmão, próstata, pâncreas, sarcoma e melanoma. O aumento dos estudos permite cada vez mais o envolvimento com os sujeitos de pesquisa e a importância de se trabalhar com dedicação e ética. Por isso, o uso das boas práticas clínicas é indispensável, porque são conjuntos de normas e orientações éticas e científicas, para o desenho, condução, registros e divulgação de resultados dos estudos clínicos. Seus objetivos são basicamente dois: garantir que os dados sejam confiáveis, reproduzíveis e bem coletados e, o segundo, de importância igual ou maior que o anterior; é que sejam preservados os direitos, a integridade e a confidencialidade dos pacientes. “Basicamente, a ética é quem determina o que se pode ou não se fazer com uma pessoa quando ela entra em um tratamento”, ressalta a monitora de pesquisa clínica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Luciane Kalakun.


A decisão do paciente de entrar em um estudo clínico é determinada por ele e seus familiares. O médico responsável pela pesquisa irá explicar ao paciente sobre o estudo que ele irá participar, quantas vezes ele vira ao centro, quais os procedimentos que ele irá fazer e tirar todas as suas dúvidas. Após a decisão do paciente, ele assina o termo de consentimento livre e esclarecido, que é um documento importante que determina que os estudos possam ser iniciados e, que o paciente está de acordo com o mesmo. “É um documento importantíssimos na pesquisa clínica e, basicamente ele é documento de proteção do sujeito de pesquisa”, comenta a coordenadora de pesquisa clínica do HCI, Adriane Fontes de Oliveira. O termo constitui essencialmente as justificativas desse estudo, os principais procedimentos, a metodologia, o que será feito para o paciente, com o paciente, os efeitos colaterais que podem ocorrer, os riscos possíveis, os benefícios do acesso a medicação e se há outras possibilidades de tratamento concomitante ou após o tratamento da medicação em estudo. “Enfim, tudo que está definido nesse termo de consentimento é o que será realizado no período de tratamento e, após a descontinuação da medicação, quando a gente diz que o paciente permanece em follow-up”, conclui Oliveira.


Os estudos clínicos estão crescendo cada vez mais no Brasil e, no sul do país não é diferente. Os tratamentos que a pesquisa clínica do HCI está possibilitando aos pacientes é uma terapêutica adequada e moderna, a um custo praticamente inexistente. “O beneficio é possibilitar que todos os pacientes, até os que são atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), tenham acesso a esses novos tratamentos”, acrescenta Franke. Apesar de todas as vantagens da pesquisa clínica, muitos pacientes morrem antes mesmo de completar o estudo ao qual está submetido. Para os familiares e pacientes, a expectativa é que os protocolos em que estão participando possam ser o melhor caminho para a cura. Segundo o paciente da pesquisa clínica do HCI e voluntário do estudo para câncer de próstata, Heitor Hoefling, 78 anos, o importante é não desistir do tratamento. “Eu tenho muita esperança que o estudo seja positivo, estão fazendo uma experiência comigo, mas estou levando muita esperança no tratamento. Eu me sinto ótimo e a minha saúde está bem”, afirma Heitor.

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